A Editora Globo relança Que tipo de República?, do sociólogo Florestan Fernandes, agora acrescido de um "Prefácio" de Fábio Konder Comparato, ao lado da "Apresentação" original de Antonio Candido (além de uma "Nota explicativa" do próprio Florestan). O título da obra sintetiza bem seu conteúdo, pois se trata de uma coletânea de artigos de recorte muito definido. Publicados na Folha de São Paulo a partir do histórico movimento das "Diretas Já" (1984) e avançando até a convocação do Congresso Constituinte (1986), os artigos cobrem o fim da ditadura militar (1985) e o subseqüente nascimento da chamada "Nova República". Que tipo de República ela será?, questiona então Florestan Fernandes (a única exceção são os oito artigos da segunda parte, intitulada "Os intelectuais em perspectiva" - enquanto a primeira parte, ocupando o grosso do volume com seus 45 artigos, se chama justamente "A conjuntura política"). Na verdade, a partir do momento em que o fim da ditadura militar parece se tornar palpável, com as "Diretas Já" levando milhões de pessoas às ruas e centenas de políticos aos bastidores, para definir tanto a transição para um governo civil quanto suas características, o momento parece propício a um homem de visão política muito além do conjuntural, como era Florestan Fernandes, para questionar, a partir de tais circunstâncias, não só a conjuntura, mas também a história e a estrutura políticas nacionais. Tendo como objeto, então, não somente o tipo de República que o país estava afinal (re)construindo, mas que tipo de República deveria construir - ou já ter construído. Se aqui a visão de Florestan Fernandes é mais a do militante que a do acadêmico (militante para quem a República deveria, idealmente, ser "popular e socialista", segundo a formulação clássica da esquerda), é o articulista Florestan, atento aos fatos imediatos, quem afinal se impõe. Mas não para eliminar o militante, ou sequer o acadêmico, e sim para trabalhar a seu lado.