... a transmissão escrita beneficia-se da clareza, um dos marcos do estilo de Dulce - limpo e claro - que também se define por seu jeito de crônica, porque são artigos enxutos, onde a autora vale-se de acontecimentos cotidianos para introduzir a teoria de modo rigoroso e vivo, de um rigor que, como ela brinca, não seja rigor mortis. Utiliza também, na receita de sua escrita, se uma houvesse, pitadas de humor que quebram o ritmo fazendo rir o leitor mesmo se o assunto é sério, driblando uma possível resistência. O jovem analista em formação encontrará aqui, tratados de modo claro e preciso, vários conceitos cruciais em psicanálise. Sem facilitar-lhe a vida, como fazem os livros de introdução à obra, mas por seu estilo, este servirá de estímulo a perder o medo e ir à fonte, mesmo em se tratando de Lacan. O psicanalista de maior percurso encontrará a oportunidade de refletir sobre a própria clínica. Conhecendo bastante bem os artigos, surpreendo-me a cada vez que os releio pensando em minha própria prática. Mas será também leitor deste livro todo aquele que se sinta concernido pela psicanálise ou que queira saber mais sobre isso. E, ainda, aquele a quem a boa escrita, com sotaque de crônica, interessar.