Fronsofobia, versurfobia, rusmusofobia, nimitempofobia, arcafobia, ilenomofóbia, paremusofobia, forlatrifobia, abcelofobia, amipartofobia, bulifobia, ilerogofobia, entefamafobia... Antes que esta estranha lista inspire um novo medo, a neologismofobia, paremos por aqui. Mesmo porque, é preciso dizer que todos esses termos aparecem já nas primeiras 10 páginas de Você tem medo de quê?, que possui 218 páginas... (incluindo índice remissivo e nota sobre o autor). Mas isso não deve causar em ninguém uma crise de bibliofobia, ou melhor, de medo do livro. Pois este, em excelente tradução de Ana Ban (que também responde pelas notas), se insere numa longa linhagem literária que se pode chamar de joco-séria (e isto não é um neologismo). Em que a jocosidade não exclui a seriedade. Ou em que a seriedade não é incompatível com a jocosidade. Além disso, Você tem medo de quê? adota a forma nada assustadora de um manual em verbetes alfabéticos " e brilhantemente ilustrados " para descrever os novos medos contemporâneos (todos com seu nome terrível devidamente explicado). Mais exatamente, 143 novos medos... Por exemplo, de leite longa vida, de malas com rodinhas, de ficar velho, de ficar gagá, de perder a hora, de conversas com o taxista, de e-mail, de escadas rolantes, de escadas transparentes, de dançar, de ficar pelado, de ficar careca, de ter ereção em público, de filas, de compras, de contas, de correspondência com propaganda, de corretores de imóvel, de ser visto cutucando o nariz... Alguns podem parecer um tanto idiossincráticos. Mas o que é mais verdadeiro, hoje, no contexto da presença assustadora do medo, do que os medos idiossincráticos? Daí o que o livro tem de possivelmente sério, por trás de sua cara deslavada de sátira de costumes. A tradução, apesar das armadilhas, é excelente, a começar do título. O simples Modern Phobias, ou "fobias modernas" do original, transforma-se em "Você tem medo de quê?", que além de apelar diretamente ao leitor, e de pressupor que todo mundo tem ao menos um medo, ainda lembra um antigo sucesso de um famoso grupo de rock nacional, cujo refrão dizia: "Você tem fome de quê?". Seja do que se tenha fome, o fato é que o homem (e a mulher) moderno(s) tem fome de muitas coisas. E essa fome insaciável, cujo outro nome é consumismo, é uma das grandes fontes dos medos contemporâneos. Não se consome sem stress. Consumir é consumir-se. O modismo (outro nome do consumismo) é irmão gêmeo do medismo (com o perdão do neologismo). Não por acaso, dos novos medos do livro, 30 relcionam-se direta ou indiretamente ao ato de consumir. Mas não é só o consumo que consuma os novos medos contemporâneos. A oferta de novos tipos de medo é muito mais ampla. O medo moderno é democrático. Há medo de tudo e, portanto, medo para todo mundo. Você tem medo de quê?