Trata-se de um estudo aprofundado das relações entre Estados Unidos e América Latina que, a fim de compreender os sentidos e significados das políticas culturais norte-americanas para as repúblicas latino-americanas durante a Segunda Guerra Mundial, recorre a um passado longínquo de relações onde habitam identidades sociais complexas, caricaturas, imagens partilhadas de inimigos comuns e o agigantamento do imperialismo norte-americano nas relações internacionais. Num labirinto de espelhos onde reflexos distorcidos transitam entre identidades e estereótipos, essas estratégias se articulam ao complexo jogo da política externa norte-americana no qual a cultura inscreve propósitos políticos e circula, como bem de consumo de massa, numa lógica econômica e em mercados específicos, compondo a tríade cultura-política-economia que caracterizou a política da boa vizinhança, novíssimo paradigma das políticas norte-americanas para a América Latina durante a guerra mundial. Ou seja, a partir da dominação direta praticada nos planos da política e da economia, as políticas culturais elaboradas pelo Escritório para Assuntos Interamericanos (que funcionava em Washington subordinado diretamente ao Departamento de Estado) conformaram um poder ampliado pela liderança intelectual e moral, promontório da cultura, da qual dependeram os projetos que resultaram na própria consolidação da hegemonia norte-americana nas relações internacionais e, ao término da guerra, na acomodação de todo o sistema internacional a este novo modelo de relações.