Na poesia de A Língua Daltônica encontro algo que quer evadir-se da poeta Renata Maria de Araújo ou mesmo a própria poeta evadindo-se de algo, alguém, algum momento, ou, algum modo de escrever, de existir ou, por último, de viver. Observo, contudo, que a fuga, e aqui penso que é algo que sai de dentro desta mulher poeta, está sempre encontrando o amor. Por onde ele passa, ou está - seja na distância, no caminho, na forma, na longitude, ou latitute que for. Acredito, por vezes, que estaria ele na Casa do Sol, onde os versos da poeta encontram semelhança ao de outra mulher - HH. O livro nos convida ao amor, sempre. Por recomeços [60] oníricos, leves, cercados de sensações fluidas e simples [12]. Ele nos desafia [18] a buscar o amor, a aceitarmos resilientes e ao mesmo tempo apaixonados, sua chamada, seu convite [20]. O amar proposto pela poeta não se revela sem a realidade de uma proposta verdadeiramente humana. Há dores. Mas este amar é doce e fluído [39/40] e sua proposta é que o ato seja a metamorfose de se prosear em versos. Afinal, ela nos promete que tudo será simples, leve, vibrante e todo tanto que somos: polvos [43]. A leitura nos leva a arrefecer o tilintar da sinapse entre os olhos e o cérebro, na medida em que as sensações do corpo, agora fluido, faz caminhos aprazíeis entre a memória, o amanhecer, o cotidiano, um xícara de café e o aroma de algo sendo massarado no pilão. [Cristina Nolasco]