O mundo contemporâneo é o do exílio e não o da pátria, o da errância e não o do lugar. Razão pela qual nosso tempo foi denominado de “século breve”, em que os acontecimentos e os desaparecimentos de modos de vida e valores são acelerados, não permitindo o repouso para constituição de uma memória reparadora. Exílio, expatriamento e dispersão espacial são, pois, o emblema das migrações forçadas por guerras, perseguições políticas e diferentes formas de conflito, que produzem a “nostalgia do inteiramente outro” diante da “vida mutilada”. Assim, a diferença entre duas figuras: a da viagem e a da partida, a odisseia e o êxodo, uma que vive no horizonte de um retorno, outra que anseia por uma pátria que não existe mais. A viagem contemporânea para uma terra de exílio tem algo de enigmático, pois populações inteiras atravessam os mares, assombradas pelos naufrágios e pela incerteza da chegada ou do encontro de um não lugar.