Daquilo de que Somos Feitos nos recorda um passado que ainda não esquecemos porque não apenas é muito recente, como na verdade sequer passou. Com ele, revivemos a experiência de sentir-se estranho no próprio país, de viver num ambiente em estado avançado de decomposição, que foi uma constante para muitos que sobreviveram ao Brasil na última meia década. Revivemos também o mal-estar de perceber o próprio distanciamento crítico frente ao ambiente como parte do problema, sintoma de uma fratura social profunda que faz com que quem se crê mais consciente dela não necessariamente seja, nem se apresente como, aliado natural para quem com ela mais sofre. Somos obrigados, assim, a confrontar as causas sociais e afetivas da decomposição, bem como o fato de que estas não desapareceram da noite por dia apenas porque personagens como o atirador Marcos ou o tio do narrador não estão, por ora, no poder. Com sua dupla formação de filósofo e romancista, Ádamo da Veiga sabe tanto analisar quanto(...)