A literatura brasileira, desde o romantismo, desenvolveu uma vertente que os estudos literários viriam a caracterizar mediante o termo regionalismo, e que floresceu sobretudo no âmbito da prosa de ficção, mas também, secundariamente, nos campos da poesia e do drama. A partir do seu singelo marco inicial até o momento identificado uma novela de folhetim de autoria anônima, Olaia e Júlio ou A periquita, publicada em 1830, a vertente mencionada faria carreira, não deixando de estar representada em nenhum dos momentos históricos subsequentes das nossas letras. De fato, de José de Alencar a escritores da atualidade, passando, entre muitos outros, por Inglês de Sousa, Oliveira Paiva, Valdomiro Silveira, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Guimarães Rosa, Márcio Souza, Francisco Dantas, diversos autores de destaque deram sua contribuição para a expansão e a diversificação desse fértil setor da produção literária nacional. Assim valorizada pelos escritores e estimada pelo público, a ficção regionalista suscitou igualmente a atenção dos estudiosos, tanto pelos interessantes problemas literários que encerra como por seu potencial de iluminar aspectos da formação social brasileira. Desse modo, desde a premonitória observação de Odorico Mendes, em nota à sua tradução das Bucólicas de Virgílio, datada de 1858, não têm faltado ensaios críticos sobre o nosso regionalismo, notáveis pela quantidade e qualidade. A Matéria rural e a formação do romance brasileiro: configurações do romance rural inscreve-se nessa linhagem de reflexão analítica e teórica. Constitui-se em importante contribuição para a atualização do tema, num tempo em que, se o termo regionalismo se vê preterido por escritores e críticos, nem por isso dá sinais de esgotamento essa longeva ramificação da nossa cultura literária, que, ao contrário, continuamente se recicla e se revitaliza, tanto no plano da criação como no domínio da análise crítica. Inserido nesse conjunto de [...]