A história dos ossos é composta por duas novelas curtas, narradas em primeira pessoa, que podem ser lidas de maneira independente, mas que, tomadas em conjunto, formam um breve romance ou negra crônica familiar. Na primeira, intitulada "O cão no sótão", o narrador, após um breve prólogo, cede a palavra ao irmão adolescente que, trancafiado no sótão do cartório em que trabalha, incumbido de "pôr ordem no arquivo morto", experimenta um surto de "furor literário" e persegue, com voz labiríntica, o tênue risco de realidade que o separa da loucura. Na segunda novela, "A história dos ossos", que dá nome ao livro, o mesmo narrador retorna anos depois à cidade natal para dar um destino aos ossos do pai, removidos do cemitério que, privatizado, está prestes a ser alugado para um terminal de containers. A concisão da escrita, a condensação da experiência e da memória em pequenos blocos de prosa, fazem desse relato quase o avesso exato do desvario de linguagem que constitui o núcleo do primeiro ­ instaurando assim um jogo de forte complementaridade entre as duas narrativas