No quintal de uma casa no interior de Goiás, em meados dos anos 80, um menino tem o sono assombrado por fantasmas. Por "alguma coisa terrível que ele tinha plena certeza de que estava ali" e que pode dar o bote a qualquer momento. Diante da vidraça de sua sala, já em 2009, uma mulher imersa em luto espera o momento trágico em que as árvores do parque comecem a migrar. Ou a se quebrarem. Porque "tudo se dobra e vai ao chão num estrondo, de um jeito ou de outro, mais cedo ou mais tarde". A ideia de finitude - com tudo o que carrega de terror e de violência - está sempre à espreita. É ela que assombra os muitos protagonistas de Terra de casas vazias, novo romance de André de Leones. Como em seus livros anteriores, também aqui os protagonistas são muitos. Suas histórias se entrecruzam, e passeiam por lugares tão diversos quanto São Paulo, Brasília, Israel. Em comum entre elas, a ameaça permanente da tragédia, da transitoriedade, do aniquilamento. Em seu quinto livro, André de Leones retoma as características que têm marcado seu estilo de escrita. Estão aqui, novamente, a temática da morte precoce registrada emHoje está um dia morto. O torpor e a solidão de Como desaparecer completamente. O terror de Dentes negros. Está, também, a rara habilidade para construir personagens densos, assustadoramente contemporâneos. E a inusitada conjugação entre a escrita ágil e um lirismo peculiar, originalíssimo. Terra de casas vazias, porém, é seu livro mais exuberante. Ao contar as histórias de Teresa e Arthur, Aureliano e Camila, Marcela e Nathalie, Maria Fernanda e Luís Guilherme, o autor elabora uma sedutora engrenagem narrativa, um quebra-cabeça onde as tramas principais abrem brechas para outros pequenos - e sempre surpreendentes - fiapos de história. Passeia-se pela violência escancarada dos bairros pobres ao redor de Brasília; pela angústia de uma clínica de desintoxicação; pela intimidade macilenta de um casal em crise; pela curiosidade infantil diante da tragédia - o amigo que morreu eletrocutado, a separação dos pais e seu vocabulário obscuro, irresistível. Ao mesmo tempo, passeia-se pela surpresa de uma gravidez tardia; pela cumplicidade redentora de um casal que, em breve, será desfeito; pela luminosidade de uma terra estrangeira, onde ainda é possível se perder. Por tudo isso, não é o desencanto que marca as múltiplas histórias de Terra de casas vazias. Pelo contrário: aqui, a linguagem é o laço primordial que, diante do inevitável desaparecer, promove um reencantamento tão soberano quanto fugidio. Uma marca de nossos tempos que a escrita de Leones consegue captar com precisão.Nome em ascensão no meio literário nacional, o goiano André de Leones conjuga uma escrita ágil a um lirismo todo peculiar. A morte, o torpor, a solidão e o terror presentes em suas obras anteriores voltam à cena em seu novo romance, "Terra de Casas Vazias", cujos protagonistas passeiam por lugares diversos, em histórias que se entrecruzam e que mantêm em comum a ameaça permanente da transitoriedade e do fim. Nome em ascensão no meio literário nacional, o goiano André de Leones conjuga uma escrita ágil a um lirismo todo peculiar. A morte, o torpor, a solidão e o terror presentes em suas obras anteriores voltam à cena em seu novo romance, "Terra de Casas Vazias", cujos protagonistas passeiam por lugares diversos, em histórias que se entrecruzam e que mantêm em comum a ameaça permanente da transitoriedade e do fim.