Em muitas religiões, é o livro, considerado sagrado, que permite a continuidade das práticas religiosas e, em especial a manutenção da memória coletiva. Este livro analisa como a comunidade protestante brasileira pratica a leitura. Para tanto, relata a prática da leitura protestante, apresentando hipóteses a respeito das razões que conduzem a tal prática. Vários referenciais teóricos são utilizados, sendo o mais importante deles a história da leitura, abordagem multidisciplinar que envolve especialmente historiadores culturais, sociólogos e teóricos literários, e que enfoca a leitura como prática cultural. O primeiro capítulo apresenta a contribuição do filósofo e hermeneuta Paul Ricoeur e do historiador cultural Roger Chartier, para as discussões relacionadas aos conceitos, respectivamente, "texto" e "leitor". O capítulo funciona como fundamentação teórica e introdução aos demais. O segundo capítulo descreve a introdução no Brasil do livro O peregrino, de John Bunyan, pelos primeiros missionários a se estabelecerem em solo pátrio, em meados do século XIX. Mostra como a obra se tornou uma espécie de manual para a compreensão da Bíblia. O terceiro capítulo discorre sobre a importância das citações das obras de John Foster, ensaísta inglês do século XIX, no diário do missionário norte-americano fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil, Ashbel Green Simonton. O quarto capítulo parte do pressuposto de que a leitura da Bíblia é uma atividade central para a comunidade protestante. Analisa liturgias de cultos presbiterianos contemporâneos procurando identificar: a recorrência de determinados textos; em que situações litúrgicas são utilizados; e como a ênfase em algumas passagens bíblicas pode produzir uma visão particular de Deus, da sociedade e do próprio protestante como indivíduo. O último capítulo investiga anotações de leituras em relatórios de pastores com o objetivo de traçar o perfil desses leitores. Uma obra interessante e inovadora, sobre um tema oportuno, que abre espaço não só para discussões sobre livros e leitores, mas também sugere novas perspectivas para pesquisas sobre leitura.