Carmen será o nome da mãe, ou será a materialidade do poema que Moisés Nascimento evoca em seu canto à ancestralidade e aos antigos? Ou só existiria a poesia porque a mãe impregnou pelos laços, no poeta, o material impreciso que atravessa os olhos de ver e sentir? No xirê de abertura de seu trabalho ora publicado, o panteão dos Orixás se presentifica em pedido, agô, em clemência de licença, para que a pele e a imagem dessa dança sejam autorizadas na pena e no papel dessa poesia em chegança. A chamada dos santos convida para o paó de reverências, assenta o leitor na casa poética de Moisés, feita de travessias afetivas entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, entre cercas e fronteiras. No percurso, o eco da memória e a paisagem que, migrantes como o poeta, secretam as imagens cintilantes que só o sensível pode capturar: entre passar café/ vigiar a janela/ perdi tempo de/ ver-te/ na costumeira pressa /de não ficar/ fora/ dos dez segundos/ que definem/ a travessia/ de um lado/ [...]