Carla Oliveira é uma inventora de cenas e acontecimentos. Avessa às fórmulas prontas estou aqui também, vendo o respeitado autor de gramática despejar nuvens de sintagma pela boca, a poeta assume uma dicção livre e fluida para dar voz às suas invenções. Em Exercícios sobre línguas e abandonos, liberdade e fluidez convivem com um olhar atento que filtra de maneira nua e crua o cotidiano e o que ele tem de assustador e absurdo, o monstro cujo bafo de ternura me orienta. Carla faz parte de uma geração de mulheres poetas que cada vez mais surgem fora do eixo de apadrinhamento e compadrio que ainda legitima quem deve ou não fazer parte da turma. Uma geração cujas dimensões estética e política são inextrincáveis e assumem uma força nunca antes vista no cenário literário brasileiro. Os poemas que compõem este livro, mesmo aqueles que aparentemente poderiam ficar circunscritos à circunstancialidade ou ao mero registro autobiográfico, [...]