São poucas as pessoas hoje em dia que ainda cultivam a arte de cerzir. Para fazer um remendo quase invisível na trama, é necessário buscar e separar cada fio rompido, para depois fazer dos próprios fios, da carne mesma do tecido, a linha invisível para reparar o rasgo. Não foi à toa, portanto, que o livro A Cristaleira conseguiu reunir os mais importantes prêmios literários do Brasil. Com uma visão penetrante e uma delicadeza raríssimas, a autora tratou, em palavras, de um dos mais desastrosos rasgos na vida emocional e social de uma família: aquele que leva a separações. Acompanhando o fio invisível dessa trama, cá e lá iluminado como que por mágica pelas ilustrações de Roger Mello, o leitor de repente se vê enredado em uma história tão particular que acaba por se tornar coletiva. Quando o livro se fecha, parece que alguma coisa importante que antes havia se rompido também volta a se juntar dentro de cada um.