Este recém-lançado Lobo sem mar de Lasana Lukata – o poeta das garças – é um livro que, em certo sentido, trata fundamentalmente de memórias, beleza e afetos. Rico em imagens sonoro-plásticas, os poemas apresentam uma linguagem fluida e convidativa, que dialoga com obras anteriores como “Exercício de Garça” (2011), “Separação de Sílabas” (2011) e “Urdume” (2013). Semelhante a uma nau abrindo sulcos no mar, em meio a resquícios de um grito, em meio ao clamor do silêncio, o poeta aventura-se por mares pulsantes de poesia a serem descobertos. Aos navegantes, um aviso: “poesia, farol que olha em todas as direções”. E inventa arranjos improváveis, encontros díspares, relações não hierárquicas. De repente, surgem no verso variações rítmicas, rimas internas e externas, metáforas, rupturas. E, ainda, delírio de abismos, a chegada de pedras, versos, ruínas, o rio Meriti a derramar poemas, o reencontro do homem com a natureza. Entre memórias reavivadas e memórias inventadas, em escuta da sua Musa – a garça –, Lasana Lukata perscruta a palavra da poesia. Com a pena sobre o papel, alça um voo rumo a “profundezas luminosas”. Um voo leve, como uma pluma; leve, sem ser vago. Um voo denso, como a magia do encanto; denso, sem ser pesado. Infância, o amor, o pai, a madrasta, as aves, o chapisco nas palavras, a marinha e o mar são alguns elementos que se entrecruzam neste novíssimo livro, mas sem carregar o fardo de males existenciais. O que o poeta cria são vivências fabuladas. Há, evidentemente, em alguns poemas traços autobiográficos, que revelam uma vida dedicada à poesia, uma poesia que não se prende ao formato poema – e sim que ganha corpo, forma, encorpa – à medida que haicais e “versos incrustados nos pássaros” surgem. A cada dia, a cada hora, a cada passo, Lasana Lukata, um lobo sem mar, coloca-se à espreita da poesia – oceano tocando a orla em lençol branco de espuma. O presente volume flana com estas e outras coisas de poesia. Verônica Filíppovna