"«Querida Irene,As coisas por aqui continuam bem. A vinha este ano está fabulosa. Espero que, se tudo correr bem no Verão, sem excesso de calor, tenhamos uma magnífica colheita.Mas algo aconteceu de estranho: uma das agaves plantadas em 1996 floresceu nesta Primavera. Tem sete anos de idade e lançou uma florescência de uns dez metros de altura. Sinceramente, o que encontrei na literatura aponta para que, nas regiões mais quentes e secas, a primeira e única floração surja quando têm uns dez anos de idade: depois secam e morrem! Mas nunca tão cedo. [...] Achei bizarro. E, apesar do meu feroz racionalismo, fui possuído por um terrível pressentimento. Como já tinha tido pensamentos mágicos no Algarve quando as redescobri e a Graça Murta me sensibilizou para os mistérios da agave. Pressentia então que o meu tempo teria acabado. Valeu-me uma motivação forte: o projecto da quinta ter-me-á salvo. Agora, a florescência da agave será o sinal de que terminei um novo, ou o último ciclo da minha vida?» Nas terras junto ao Douro, chão fértil para toda a sorte de castas, também Arnaldo tenta medrar, agora aposentado e longe dos seus, querendo dar um rumo novo e ainda pujante aos seus dias. Mas, como a agave paciente, conseguirá/terá ele o seu florir derradeiro?»