A experiência psicanalítica se processa hoje segundo outras coordenadas, exigindo do analista outras formas de escuta e de intervenção clínicas. Isto porque as novas modalidades de mal-estar assumidas pela demanda contrastam de maneira marcante com o que se passava nos idos dos anos 50 e 60. Assim, a conflitualidade psíquica, polarizada entre os registros da pulsão e da interdição, fica marcadamente esmaecida e é progressivamente substituída por formas outras de padecer, nas quais o trauma ocupa a totalidade do psiquismo. O excesso se encontra então por toda parte, disseminando-se pelos interstícios psíquicos, e acaba por desestruturar o sujeito. Com isto, a catástrofe se impõe com todos os seus acordos nefastos, conduzindo a individualidade aos limites perigosos da dessubjetivação. Portanto, a tradição psicanalítica se confronta com os limites do analisável, tendo então que ser repensada para estar à altura dos novos desafios. Para isto, é preciso dar um vigoroso passo atrás, avaliar as condições de possibilidade de sua experiência, para poder então dar um rigoroso passo à frente e acompanhar os atuais impasses da subjetividade. É preciso recuperar a reflexão teórica e clínica sobre o trauma naquela tradição, constituída sobretudo na viragem freudiana dos anos 20 a partir das novas linhas de fuga possibilitadas pela invenção dos conceitos de pulsão de morte e de além do princípio do prazer. Tudo isto se desdobra no percurso crítico e criativo de Ferenczi, que constitui um efetivo arquivo sobre as experiências limites em psicanálise. É o que nos oferece, enfim, a leitura instigante de Extremos da alma.