Tempo e espaço são os eixos por onde se movem os corpos humanos - ou parte deles. Em uma narrativa onde a descontinuidade dá o tom, palavras como perda, erro e fraqueza fazem um coro bizarro - e fascinante - com a busca secular pela conservação de órgãos e cadáveres, incluindo práticas como a plastinação de corpos em diferentes épocas. Se em muitas histórias encontramos elementos biográficos de Olga - não apenas nos textos em primeira pessoa como também em personagens que a autora conheceu ou observou durante suas viagens -, outras estão ligadas à mitologia, sobretudo a grega, e a figuras que marcaram a História. Todas tentam olhar com coragem para a vida e a morte a partir da imperiosa necessidade de deslocamento do corpo: permanecer no mesmo lugar seria sucumbir à maldade. Neste romance, no entanto, não há respostas. A cada página de Os Vagantes tropeçamos em acontecimentos dos quais é impossível sair ileso. De Kunick, o homem que se perde da mulher e do _lho numa ilha croata durante as férias, a Annushka, que desiste de tudo para vagar pelas estações do metrô de Moscou, passando pelo anatomista holandês Frederik Ruysch e sua técnica de conservação de órgãos com brandy, a autora constrói um labirinto em que correspondências e reflexos apontam para uma lógica, ainda que débil, capaz de encarar o absurdo.