Estamos num momento da evolução da filosofia acadêmica no Brasil em que esta, tendo atingido certa maturidade, certo grau de desenvolvimento institucional e certa massa crítica de pesquisadores em atividade, começa a tomar consciência de si mesma, a perceber as singularidades que lhe conferem identidade e a afirmar-se como uma potência intelectual relativamente autônoma, pouco a pouco se libertando da mera importação de modelos ou modismos e apostando na inserção internacional efetiva, numa posição de interlocução não necessariamente subordinada. É claro que esse processo está apenas no começo e não acontece uniformemente em todas as áreas da pesquisa filosófica e em todo o variado cenário institucional nacional. Mas uma parte do mesmo consiste na intensificação do debate doméstico e do comentário - crítico ou analítico - do trabalho dos filósofos brasileiros e da atenção à história recente da filosofia brasileira que conduziu ao seu estado atual. Em outras palavras, cresce a percepção de que é também digno e justificável discutir e escrever sobre o que se faz aqui. É dentro desse contexto que se deve compreender esse pequeno tributo ao trabalho de Luiz Roberto Monzani: não apenas como uma homenagem sentimental, mas também como parte do processo de reconhecimento de que o trabalho filosófico que se faz no país merece o esforço intelectual de compreendê-lo, analisá-lo e interpretá-lo, assim como rastrear seus efeitos na nossa comunidade acadêmica em formação.