A crônica, gênero híbrido, que transita entre a linguagem jornalística e a literária, provoca o leitor a olhar de perto o cotidiano, a tentar compreendê-lo e a recriá-lo. Uma das características mais importantes do gênero é a vivacidade, o comentário no calor da hora, daí também sua alegada fragilidade como literatura. Isso, entretanto, vem deixando de ser relevante na contemporaneidade, quando a certeza e a duração tornam-se critérios de valor tão relativos. É o que permite que o gênero fortaleça seu status, que se transforme em objeto de estudos literários, como a dissertação de mestrado de Breno Serafini, agora apresentada em forma de livro. Com recursos colhidos na academia a respeito do humor e do riso, a argúcia de leitor atento e favorecido por uma significativa seleção de crônicas de Luiz Fernando Verissimo que é objeto de estudo, Breno retoma o gênero, problematiza a sua relação com a literatura e a história e nos oportuniza uma potente reflexão a respeito do Brasil da era Collor, entre 1990 e 1992. Por fim, como quem verifica e confirma seus acertos, o livro nos brinda com uma breve atualização e examina crônicas que tratam do atual golpe à presidenta Dilma Rousseff sob o olhar de Verissimo. Aí também o papel do gênero e do autor se confirma: ser arauto dos tempos, como o menino do conto que, durante o desfile do rei, é o primeiro a gritar a plenos pulmões que o rei está nu. Ana Mariza Filipouski - Professora aposentada do Instituto de Letras/UFRGS