A trajetória do romance histórico como gênero híbrido de história e ficção iniciado em 1814 pela escrita cativante do escocês Walter Scott, com o romance Waverley é fascinante. Ela vai da fase primeira constituição da modalidade clássica scottiana, amplamente imitada e traduzida na Europa do romantismo às produções que darão origem à modalidade tradicional de romance histórico, ainda inserida nessa primeira fase. Essas duas modalidades são consideradas como produções híbridas não críticas, pois, por um lado, não alteram, em nada, o discurso historiográfico (modalidade clássica), e, por outro, corroboram tal discurso pela apologia e exaltação que emana das obras tradicionais do gênero. Já uma segunda fase dessa trajetória evidencia releituras críticas e desconstrucionistas da história pela ficção. Nessa fase, incluem-se as modalidades do novo romance histórico latino-americano, inaugurado pela obra El reino de este mundo (1949), do cubano Alejo Carpentier, e as metaficções historiográficas, consideradas por Linda Hutcheon (1991) como uma das produções mais críticas da pós-modernidade. Essas duas fases contam com um conjunto de obras críticas que busca elucidar diferentes perspectivas do passado. Contudo, a produção mais atual iniciada nas últimas décadas do século XX e amplamente desenvolvida nos dias de hoje não se mostra condizente com as teorias anteriormente desenvolvidas. Isso ocorre porque essas obras de produção mais recente constituem, de fato como revela esta obra, uma terceira fase da trajetória do romance histórico. Esta fase, dominada pelo signo da mediação entre as modalidades anteriores, carecia de estudos de fôlego que a explanassem com propriedade.