Lendo o Evangelho, nunca se encontra que Jesus tenha oferecido comida a uma pessoa faminta, exceto na multiplicação dos pães, ou que tenha dado água aos sedentos (parece, aliás, que pediu água à Samaritana de Sikar), ou que tenha visitado um preso, ou que tenha vestido uma pessoa sem roupa. Apesar da mensagem de Sua pregação levar a esta atitude de misericórdia, os Evangelhos não relatam exemplos deste tipo. Por quê? E, por qual motivo, do outro lado, tudo será julgado em base a este amor aos últimos? A resposta e o exemplo de Jesus são bem mais radicais do que um simples gesto: Jesus não visitou um preso, mas tornou-se Prisioneiro, Jesus não vestiu ninguém, mas tornou-se Nu. Nasceu pobre em Belém e morreu paupérrimo na Cruz: se antes tinha poucas faixas, na cruz perdeu até Sua última gota de Sangue. Eis o Mistério antigo, escondido: a Identificação plena e total do Filho de Deus com os últimos deste mundo! Esta é a nossa vocação: ajudar, sim, mais que podemos; curar, sim, como Jesus fez com seus inúmeros milagres; construir creches e casas de acolhida, sim; mas antes de mais nada: identificar-nos com os pobres, tornar-nos pobres, enxertar- nos neste ramo dolorido junto com Jesus. O que nos atrai e nos arrasta dentro deste "buraco negro" é Jesus, o nosso único amor. A Rua é o fundo do Poço e o Povo de Rua revela o verdadeiro rosto da nossa sociedade. Eis o fruto mais evoluído nosso mundo globalizado! Um progresso sem amor só gera injustiça. Conhecendo o Povo de rua, nós conhecemos melhor a nós mesmos. E é este o convite do livro: conhecer o povo de rua como verdadeiramente são, sua história, sua dificuldade e também sua superação.