“L’Atalante” foi o quarto e último filme dirigido pelo cineasta francês Jean Vigo (1905-1934). Herdeiro, pelo lado paterno, de uma concepção anarquista da vida, Vigo se notabilizou por fazer filmes anticonformistas. Trata-se literalmente dee um romance de amor, com uma história que de tão simples beira a banalidade. Em resumo: após casar-se com Juliette, Jean leva-a para a barcaça L’Atalante, que é ao mesmo tempo sua casa e seu ganha-pão, indo e vindo no transporte de carga pelos canais que ligam o Havre a Paris. A vida na barcaça acaba entediando Juliette que lá um dia decide passear na cidade grande. Jean, ressentido, zarpa antes que ela retorne, mas logo se dá conta da imensidade da perda e se desespera. Intervém então o imediato, que sai à procura da moça, encontra-a e torna a juntar os dois. A trivialidade do enredo, porém, não impede que Vigo narre com sua câmera um conto de sofrimento erótico intenso num fluxo de imagens que também captam fantasias, sonhos, cenas de rua, humor, detalhes do dia-a-dia na barcaça e do cenário singelo do trabalho industrial. O livro de Marina Warner não apenas aproxima o leitor do cineasta intensamente pessoal que foi Jean Vigo como ainda consegue deixar claro por que se diz hoje, mais de sessenta anos depois de realizado L’Atalante, que tudo o que a nouvelle vague produziu mais tarde nasceu desse filme.