Apesar de ser conhecida do leitor brasileiro desde que foi traduzida por Manuel Bandeira (já no final dos anos 1920), a obra de Dickinson aqui sempre foi publicada na forma de antologias, as quais, em que pese a qualidade da tradução, muitas vezes impedem a leitura contextualizada de seus poemas. Nossa tradução se move, ao contrário, em dois eixos: costura e sutura. A costura corresponde ao respeito à integridade da obra, ao trabalho crítico-textual de trazer um texto íntegro e completo. A sutura, por outro lado, aponta para o que não se quer fechar na poesia de Dickinson, em termos de sentido, ou para o seu mais-valor literário, que é sempre uma meta e, por ser meta, melhor se traduz ao modo da metáfora. Sendo assim, qualquer ideia de fidelidade absoluta (ao ritmo, à imagem e ao pensamento) permanece apenas como ideal paradisíaco, do qual só os leitores, no confronto entre o original e a tradução, poderão realmente usufruir.