O mar como uma blusa brilhante que a avó usa no natal; a vizinha que tem o cabelo da cor da almofada de cetim; o boné de um velho que saiu voando; um doberman que sabe andar só com as patas traseiras; pernas cruzadas com o pé balançando suspenso e uma afta na parede interna da boca. Ninharias que, na dicção de Julia Codo, se tornam determinantes não apenas narrativos, mas do próprio sentido das vidas que se desenham nesse livro. São essas as coisas que, sem percebermos, delineiam a atmosfera entre lírica e grotesca que domina essas histórias, numa linguagem que evidencia o quanto os detalhes, quando ampliados pela literatura, revelam sobre cada um de nós. É a aliança entre um olhar poético que captura o mínimo e uma visada aguda sobre os horrores da vida pequeno-burguesa que singularizam os contos desse livro.