“Fomos feitos de fagulha e dessa centelha de indigência”. Nenhum verso isolado daria conta da grandeza (tanto no sentido de sua qualidade literária como no sentido de sua discussão intelectual) de um livro como Fim da Terra, obra de maturidade de Rodrigo Petronio. No entanto, é irresistível iniciar esse curto depoimento sem alguma citação – no caso, do poema “Fomos feitos de mato e abandono e esqueciento”, um dos mais belos do livro –, tal a força encantatória das estrofes, construídas na convergência de pelo menos três vigorosos pilares: densas imagens inusitadas, cadência rítmica e rigoroso pensamento propositivo.Melhores compreendidos dentro da tradição do que eu chamaria de Grande Poema (no sentido da produção universalista de poetas maiores como Pessoa, Paz ou Tagore), seja em poemas de fôlego ou em prosa, o poemário de Fim da Terra versa sobre a extinção do humano sobre este planeta; ou melhor, conta a história de uma combustão.