Focalizando Platão a partir de sua história e de sua obra, não estamos propondo aqui qualquer interpretação definitiva do filósofo. Aliás, tal interpretação talvez nem seja possível, não só devido às distâncias históricas que nos separam dele, mas também devido à sua enorme astúcia de escritor. Razão pela qual trilhamos apenas o caminho das hipóteses para tentar desvendar a obra do mais obscuro dos pensadores apolíneos, do mais apaixonado dos lógicos, do mais místico dos racionalistas, do mais prático dos idealistas, do maior crítico dos mitos, que é, ao mesmo tempo, o autor que mais utiliza o mito: do mais totalitário defensor do pensamento... por hipóteses! A atitude filosófica de platão parece ter herdado o caráter paradoxal de suas argumentações e de seus Diálogos: o de ser, ao mesmo tempo, eterno e insustentável.