A trajetória da filosofia de Alasdair MacIntyre se caracteriza por uma permanente abertura dialógica crítica às diferentes posições teóricas com que se defronta no seu enfrentamento de problemas fundamentais na filosofia moral e política. A riqueza conceitual e temática nela presente proporciona múltiplas possibilidades de diálogo filosófico substantivo, deixando rastros e marcas desse embate teórico não só naquele momento particular de sua realização, mas também fundamentalmente nas suas formulações maduras, quando os frutos conceituais aparecem enriquecidos e a serviço de um filosofar autônomo e autêntico. Sua filosofia é uma resposta aos problemas do seu tempo histórico; é a busca de afirmação do caráter histórico do homem e da sua moralidade, mas sem querer cair no relativismo e nem no absolutismo dogmático, e sem pretender também afirmar a priori a validade de valorações ou proposições morais supra-históricas. É uma tentativa de lidar com a contingência da práxis humana, sem se perder no historicismo simplório ou no relativismo e nem também no mundo das necessidades universais abstratas. O objetivo do livro é justamente explicitar um desses diálogos fundamentais: a influência da hermenêutica filosófica de H.-G. Gadamer na sua reflexão, aqui considerada como significativa para a constituição da estrutura conceitual da teoria moral macintyriana, no sentido de que está operando em seu interior o que chamamos de uma "pequena hermenêutica". Um diálogo cuja força é tal que o arcabouço conceitual macintyriano não funcionaria plenamente sem tais elementos oriundos da hermenêutica gadameriana.