Bakhtin ilumina essas diferentes formas, trazendo à baila informações com grande erudição e pouco lembradas em nossos estudos literários atuais. Ele se refere a ‘tempo biográfico’ e a ‘uma nova imagem específica do homem ao longo de sua vida.’ Identifica, na Grécia antiga, dois tipos principais de autobiografia. O primeiro é otipo platônico, a exemplo de A Apologia de Sócrates e Fédon. Na base desse tipo, há o cronotopo (‘o espaço e o tempo da vida evocada’). É a vida de quem busca o verdadeiro conhecimento. ‘O tempo biográfico real dissolve-se quase inteiramente no tempo ideal, até mesmo abstrato, dessa metamorfose. Não é nesse esquema de biografia ideal que se revela a significação da figura de Sócrates.’ O segundo tipo principal na Grécia é a biografia e a autobiografia retóricas. Em sua base está ‘o enkomion [encômio], o elogio fúnebre e comemorativo do cidadão, que substituiu a antiga deploração.’ A primeira autobiografia antiga, a defesa de Isócrate, foi determinada pela forma do enkomion.Os ensaios reunidos nesta coletânea, alguns são inéditos; outros já foram publicados em revistas ou como prefácio de livros. Entre eles: "Da Especificidade do Literário"; "O Universo Poético de Harpa de Ouro"; "A Psiquiatria como Abuso de Poder"; "Padre Antônio Vieira: O Gênio Barroco" e, por último, "Sobre Narrativa da Perseguição".