Em 1884, August Strindberg (1849-1912), o já célebre dra­maturgo sueco, publicou Giftas, uma coleção de doze contos girando em torno das agruras e das delícias da instituição do casamento. O livro, extremamente crítico dos costumes sociais (como de resto toda a obra do autor), foi publicado em meio ao movimento feminista sueco, um dos primeiros do mundo. O resultado é uma dezena de contos em estilo realista, um dos quais O salário da virtude lhe rendeu um rumoroso pro­cesso por blasfêmia, do qual acabou inocentado. Strindberg, autor de uma extensa obra que inclui títulos como Senhorita Júlia, faz muito mais do que retratar as dores e os prazeres de matrimônios nos vários estratos sociais de então. Com seu olhar ferino e ácido, disseca temas como a sujeição das mulheres, a profunda desigualdade entre gêne­ros, a idealização do casamento, além de dogmas religiosos e morais. Passados mais de cem anos da publicação original, esta magistral obra continua a ter o que nos dizer.