O Governo JK e as raízes getulistas da orientação do capitalismo no Brasil é um livro escrito com o espírito de transformação do passado como objeto de saber. Nele, o autor apresenta relações entre os governos de Getúlio Vargas e o governo de Juscelino que contrariam referências convencionais e moralistas feitas por consagrados pensadores brasileiros, propondo novas referências e sempre evitando dar créditos à errônea ideia de intervenção do Estado na economia para, em seu lugar, indicar o papel ativo e indispensável dos governos no capitalismo como comandantes e orientadores desse fenômeno monetário que em geral só se atribui a burgueses. Afastando-se de teorias e modelos inspirados em realidades estranhas ao Brasil, o autor concede ao capitalismo brasileiro e à industrialização que o acompanhou o direito de ter os seus problemas e as suas teses, relacionando burgueses, burguesia e governos como ainda não se fez na nossa literatura política. Por isso, a industrialização do Brasil não é tratada como resultado de qualquer tipo de determinismo histórico. Com efeito, o autor deixa bem claro que sem seus idealizadores, sem a luta tantas vezes inglória de pioneiros e, principalmente, sem a tomada decisiva de iniciativas pelos governos, ela continuaria a ser apenas um sonho brasileiro. Todavia, dentre os governos decorrentes da Revolução de 1930, coube ao Governo Kubitschek o papel decisivo para fazer do Brasil um país industrializado e efetivamente capitalista. Por isso, o Plano de Metas é tratado como proposta histórica no mais amplo sentido, não tendo sido um conjunto de objetivos tirados de algum manual de Economia, mas um plano para o Brasil que JK interpretou e projetou como o próprio espírito daquela revolução, haja vista a combinação de industrialização e capitalismo com a proteção social aos trabalhadores. Enfim, Daniel Kosinski reforça os argumentos em favor da inserção histórica do Governo Kubitschek num período marcado pela liderança maior de Getúlio Vargas, sem tirar de Juscelino a capacidade de liderar, em rigor, de comandar o capitalismo no Brasil. Muito menos lhe tira o mérito de compreender a história do Brasil, o engrandecendo como líder e dando ao leitor um belo exemplo de governo que não escondeu o caráter político do capitalismo.