O escritor Moacyr Santana profetizou que a poesia, "em relação aos poetas, não é vocação, é condenação. A uma vocação podemos fugir ou recusar-nos, mas a uma condenação nunca". Assim Afonso Antunes se vê possuído por essa Musa; só escrevendo sobre as vicissitudes da vida é que consegue apaziguá-la, porque é na poesia que perquire o mar de gente que o habita. Para isso sai ao exame das almas, sabendo que não irá encontrar ao ver o garoto no cais enrolando o baseado com fatos reais. Persiste na busca da beleza no ônibus das suas enamoradas de única viagem, nas ruas que não têm praia até aquela de nuance esquisita que fez sonhar Quintana, porque ali se localiza a "Casa das Palavras", onde tem encontro com Rilke, Bandeira, respira Buarque, segue Moraes. Interage com Drummond, com quem aprendeu a remexer as palavras até emparelhar métrica com rima. É assim que nasce a poesia de Afonso. Reinventa a infância que há pouco o deixou. Busca no poema o lenitivo da separação da matriz que o nutriu pela veste desconfortável de adulto. Com esse manancial desliza o verso ao mais recôndito do ser humano, onde não encontra Deus, mas hulha e ouro, rima e forma, ideia e sonho, a metáfora com a qual brinca, fazendo-a dançar e dar cambalhotas, sem descurar a essência que existe em cada um de nós. Então tece seu poema com o mais fino tecido, que é feito de amor e de verdade, de sonho e realidade, costurando verso com verso nas madrugadas de sábado, até galvanizar o ser humano na Poesia de Domingo.