Lá pelos idos de 1940, um jacaré no Pantanal levantou a cabeça e tomou um susto: pela estrada ali perto, seu olho bateu num gringo de paletó, gravata e bigode, um fino bigode, olhando com um olhar de espanto e de encanto aquela paisagem. Não era outro senão o que veio a ser conhecido por outros espécimes da fauna tropical brasileira como Anatol Rosenfeld pensando. Com este ar de pensador, embebido na cultura alemã com tempero judaico – Kant e Thomas Mann, Heine e Brecht sob um olhar com piscadelas scholemaleichianas, ou, mais ocidentalmente, peretzianas –, de quem se delicia com a descoberta da cachaça, mas não desterra o chope nem o vinho de Pessach, ele saca de sua caneta tinteiro, modelo 1930, e põe-se a redigir uma série de crônicas e contos sobre o que está vendo, sobre o que viu e sobre o que pretende ter visto. O resultado do cometimento está aí, à vista do leitor, nessa instigante e marcante viagem ’off road’, pelas veredas dos brasis de então, que se lhe oferece na variação luxuriante e ardente de seus cenários no mato e na cidade, e na fala e no ritmo de sua gente, brasileiros, sírios e judeus, tudo e todos matogrossenses e paulistanos como ele, mesmo na tipologia gráfica romanogóticohebraica de seu nome como autor: Anatol Rosenfeld. J. Guinsburg