Ao contrário do que costumamos imaginar, a linguagem não é apenas um instrumento de expressão ou de comunicação de idéias. Linguagem também não se reduz a um veículo de informações e menos ainda a uma mera articulação de símbolos ou sinais. Linguagem não é nunca um conjunto de palavras usadas para designar as coisas. Na verdade, as coisas só podem ser em e através das palavras. As palavras chamam as coisas: as nomeiam e as trazem à tona. As palavras são caminhos abertos entre nós e o mundo. A linguagem é a essência da realidade, quer dizer, constitui e permeia tudo que nos cerca. A linguagem é também o território a partir do qual as identidades do eu e do nós brotam, nutrem-se, transformam-se ou dissolvem-se. Mas qual é a identidade da identidade? O princípio de identidade tem determinado historicamente tanto a relação do homem com a natureza quanto a relação dos seres humanos entre si. O princípio da identidade é a tendência a tratar todo diferente como um mesmo. Essa tendência pode gerar uma sociedade em que seus membros são rapidamente identificados segundo suas funções (eleitores ou expectadores, consumidores ou produtores de bens, receptores ou emissores de informações etc.), mas com poucas chances de interagir com os outros enquanto um outro, ou seja, a cada vez singular e específico. Defrontar-se com o tema da identidade exige instaurar-se na crise da unidimensionalidade do sujeito e refletir sobre as novas fronteiras e as novas articulações entre linguagem, identidade e memória. Não a memória dos arquivos e dos fichários, não a memória guardiã de uma identidade fechada e excludente, mas uma outra memória, perpassada pela colorida diversidade social, grávida de palavras-caminhos para o futuro. Charles Feitosa Doutor em Filosofia