Velório sem defunto, do poeta gaúcho Mario Quintana, dá prosseguimento à coleção Mario Quintana, que desde 2005 reedita sua obra de modo sistemático, sob coordenação de Tânia Franco Carvalhal. É dela a seleção, a organização e a introdução deste novo volume, que conta ainda com fixação de texto de Lúcia Rebello e Suzana Kanter. A introdução, depois de uma primeira parte que detalha a biografia do poeta, se estende sobre as características gerais de sua obra e, então, sobre as características particulares deste volume. A extensa obra de Quintana não é, porém, fácil de classificar, por ele ter adotado todas as formas da poesia verbal, do soneto à quadra rimada ao poema em prosa, passando pelo verso livre. Quintana é filho do modernismo de 22. Daí o coloquialismo, a variedade formal, a ironia, a urbanidade. Não por acaso, seu estilo tem algo de Bandeira, mas também de Drummond. Ao mesmo tempo, deles se afasta, e também se afasta do próprio modernismo (ao menos sob um aspecto), ao eliminar o ceticismo que o marca. Mário Quintana é um poeta que crê na poesia; que tem na palavra poética uma amiga e uma aliada. Essa aliança, ele a transmite a seu público. Como afinal resume a introdução: "O livro que ora a Editora Globo entrega aos leitores reúne e sintetiza grandes fulcros da poética de Quintana, pela presença permanente dos seus mundos, vivências, memórias, metaforizações, espantos e esperas. É um texto aglutinador que permite percorrer as influências e as idiossincrasias poéticas que atravessam a obra de Mario Quintana, ou seja, o absurdo do presente e a idéia da morte do romantismo, as metáforas ousadas e as imagens inesperadas do simbolismo, aliados à simplicidade e coloquialidade modernas". Quintana, num processo lento mas consistente, foi se tornando, principalmente a partir dos anos 60, cada vez mais conhecido e cada vez mais apreciado por um número crescente de leitores. Sua morte, em 1994, não alterou esse quadro. Ao contrário. Velório sem defunto só vem confirmá-lo.