'A última fábula' conta a vida em uma pequena aldeia dos Apeninos, Itália, durante os anos da Segunda Guerra Mundial, vista através dos olhos de uma menina, filtrada pela magia das fábulas contadas pela avó. A menina foi levada pequena para lá - quando a mãe deixou Roma para se refugiar com os filhos em sua aldeia natal, após a partida do marido para o front - mas aquele lugar, situado no alto de uma colina e circundado por muralhas milenares, é para ela o único onde crianças nascem, brincam e ouvem fábulas, ao passo que o mundo além dos montes e do mar, que se descortinam no horizonte, é o lugar da guerra, para onde partiram seu pai, seus tios e muitos outros homens, de quem a avó fala como nas fábulas fala dos príncipes e heróis que partem para terras distantes. Ela participa com adesão total ao mundo adulto feminino, no qual vê delinear-se seu destino de mulher - um mundo de trabalhos e preces, entre a cotidiana luta para a sobrevivência, as lidas domésticas, os cuidados amorosos com a casa, e a ansiosa espera das cartas que trazem notícias dos homens no front. Mas a sombra daquele mundo em guerra acaba se projetando sobre o pequeno mundo até então considerado seguro - após o Armistício assinado pela Itália com as Forças Aliadas, no verão de 1943, a aldeia será ocupada e em parte queimada pelos alemães, em seguida será alvo dos canhões dos aliados, que acabam por matar uma criança, uma companheira de jogos, que acreditara como ela que a guerra era só para os adultos. Quando acaba a guerra, e a menina pensa que tudo possa voltar como antes, parte da aldeia com a família, para voltar à cidade onde descobre ter nascido. E, no vagão de um trem de carga utilizado para transportar refugiados, confusamente entende que, com o fim da guerra, acabou também a infância, os invernos das fábulas, e conhece algo que não sabe definir, uma dor sem nome, à qual a avó não poderá mais acudir. E são as fábulas que virão em seu socorro - no barulho do trem, para preencher a sensação de desorientação e medo, a menina começa a repetir a si mesma, baixinho, as palavras da fábula que sabe de cor, e lembra conta sonha os anos passados naquela terra de infância, aqueles anos de guerra que muito tempo depois, em outra terra distante - o Brasil - serão a fábula que contará a seus netos.