O encontro do leitor com O último deus, coletânea de trinta contos de Rodrigo Petronio, é turbulento. Na primeira leitura, o susto com a crueza de alguns dos personagens e seus incríveis feitos é inevitável. Apesar desse choque, e acima dele, evidencia-se, de imediato, a rara qualidade dessa obra, qualidade que obriga ao distanciamento da impressão inicial e à releitura. Na segunda vez, já sem o impacto das sombrias bizarrices, o leitor não tem como evitar sua sedução, independentemente da agressividade de alguns textos. Pois violência - e quanta! -, vida e morte, natureza e cultura, sagrado e profano, tempo e eternidade, transe e realidade frequentam suas páginas, além da ironia, uma ironia própria, porém colorida pelo sarcasmo. Dessa vasta, intrigante e complexa matéria se compõem os contos do autor, justamente premiado. Seu pensamento é labiríntico, obsessivo; alguns empenham-se em violências sufocantes, inexplicáveis, não apenas verbais, também físicas. [...]