'Réquiem' é um romance povoado de mortos imperfeitos. Narra a trajetória de um escritor que tenta vivenciar o luto pela morte de Maria, mulher com quem manteve uma relação obsessiva. Mas a dor não vem e essa morte parece incompleta, como se reproduzisse o caráter fugidio da personagem. A figura dela se torna cada vez mais esgarçada, seja na memória, na história, ou na obra de ficção em que ele pretendia fixá-la. Na busca de um resgate de seus traços mínimos, o protagonista atravessa a cidade, repleta de evocações. O destino é a casa do viúvo de Maria, aventura que amplia sua desorientação em um mundo que escapa seguidamente a qualquer esforço de ordenação. Essa desordem se reflete na arte, em seu próprio manuscrito inacabado e no texto que recebeu como espólio do poeta Derive, outra morte viciosa que exige um enfrentamento. Para um artista que pretendia se anular pela escrita de uma obra digna de seu tempo, resta a paralisia absoluta. Ou o rastreamento de um elemento desagregador mas, paradoxalmente, a única pista a ser seguida na procura de um nexo possível - a figura mitológica de Nehebkau, o guardião dos mortos. Aquele que vai forçar o exasperante reexame de seu passado e, talvez, permitir que o luto se cumpra. 'Réquiem' traça um percurso que passa pelo caos, pela solidão intransponível, pela diluição de sentidos do mundo contemporâneo.