Escravidão e golpes, dominação e extermínio, destruição e desgraça. Aos senhores de engenho de ontem e hoje, o poeta faz o seu aviso: o seu lugar de perigo é o meu passeio. / assim já está posta a diferença entre nós. Mas no mangue de seus poemas floresce muita vida e delicadeza. Tantas maravilhas que merecem o júbilo estão aqui. Elas levam o Flávio à pressa de se escrever / como quem vai ser abatido. São comidas e festas, são pipas e balões, são Inhaúma e Brás de Pina, são os subúrbios e as matas, são os malandros e as crianças, são os pobres, os negros e os indígenas que figuram numa nova bandeira, onde se lê brincadeira no lugar de ordem e júbilo no lugar de progresso. O resultado é uma ambivalência que você, que lê este livro, sentirá como uma lâmina que te divide em dois. Você também ama e odeia, não é? As duas partes terão de trabalhar juntas para compreender a violência e a ternura da forma órfã de Flávio Morgado poeta-criança a aplaudir o que sobe. [...]