Este livro aborda temas de saúde coletiva de modo muito amplo, sob a inspiração de perspectivas histórico-sociológicas. Não se encontrará aqui um convite e incursões pela genealogia do conhecimento ou pelo que já se chamou, incisivamente, de micropolítica. Em que pese a língua vernácula desnecessariamente desfigurada, releituras brasileiras de pensadores europeus como Gilles Deleuze e Martin Heidegger podem, por certo, apontar para um norte, onde buscaremos as possibilidades da humanização da atenção à saúde. Mas lhes falta a bússola. Os ensaios deste livro se guiam por instrumentos metodológicos mais precisos, de vôo baixo mas de longa duração pautados nas técnicas de pesquisa da sociologia histórica e da microssociologia das profissões. No tocante aos esfoços pela humanização do cuidar, que de algum modo guardam no Brasil elementos de um movimento nativista, preferimos acentuar o processo histórico em que se combinaram, de modo por vezes contraditório tradições díspares como a alemã e a francesa, centradas no papel do Estado, e o comunitarismo associativista inglês e norte-americano, que privilegia a participação societária - vista entre nós sob o termo algo ambíguo de "controle social'. A dimensão internacional da saúde tem expressão recente no Brasil em iniciativas como o "Programa UNI", cujo ideário resultou da açãoda Fundação Kellogg, em vigorosas parcerias inter-institucionais. Mas a história da saúde nos traz ainda outras lições. Nesse livro, os leitores encontrarão um convite à reavalização da participação da Fundação Rockefeller ainda na Primeira República , quando aquela agência buscou estimular as primeiras parcerias duradouras, novos cenários para a atenção à saúde e a formação de linhagens de primeira linha de sanitaristas e enfermeiros, pesquisadores e gestores.