Interrompidos, estreia literária de Alê Motta, são como faca furando a pele. Coisa de minuto, o tempo exato de nos afundarmos na leitura e, pronto, já saímos deles doloridos de humanidade - mas não a sua face bondosa, e, sim, a perversa. O nosso lado sombrio emerge, destilando a nossa poção Mr. Hyde. São dezenas de narrativas curtíssimas nas quais a marca (e a cicatriz) da maldade se espraia, galvanizando as tramas aparentemente singelas. Com meia dúzia de palavras, a jovem contista delineia as cenas, para não dizer as arenas, onde seus personagens, sempre em falsa harmonia, vão se digladiar em bárbaro silêncio. Os relatos, dominados pela primeira pessoa, são de súbito interrompidos, como o título da obra anuncia, não por outro motivo senão a ação, nefasta (ou piedosa?) da mão humana. Nada de deuses, entidades angelicais, altas esferas. Apenas vidas prosaicas, espíritos mundanos, rodapés da sociedade.