O trabalho de Carmen Dora Guimarães é uma análise pioneira sobre a construção biográfica da homossexualidade entre homens moradores na cidade do Rio de Janeiro na década de 1970. Os entrevistados integram uma rede social específica, e são oriundos de cidades do interior mineiro. Eles escolheram migrar, impelidos pela "busca de liberdade", para um espaço social em que a identidade de "entendidos" não fosse objeto de controle social estrito. A mudança para o Rio lhes permite adotar um estilo de vida no qual lazer e prazer são priorizados. A análise enfoca a dinâmica das relações de amizade entre homens, que hoje chamaríamos de gays, e pessoas heterossexuais, marcada pela sistemática negação do estigma de "anormalidade". A identidade sociossexual daquele que transa, é positivada em contraponto à identidade de bicha, que é rejeitada vigorosamente. O livro traz uma etnografia rica sobre diversos pontos de sociabilidade gay, entre os quais a praia em frente ao Hotel Copacabana Palace, ainda hoje importante na cena carioca. Para além da suposta homogeneidade dada pela orientação sexual, a autora verificou, nesses espaços, uma intricada composição entre sexualidade e classe social - lógicas classificatórias que nem sempre coincidem, estabelecendo um complexo jogo de inclusão e exclusão entre os freqüentadores. Este livro representa uma contribuição fundamental para a história social da homossexualidade no Brasil.