As férias de um casal da classe média inglesa envolvido com situações de sadomasoquismo extremo foram o ponto de partida para o romance Ao deus-dará, transportado para o cinema pelo diretor Paul Schrader como Uma estranha passagem em Veneza. Com A criança no tempo, Ian McEwan parte de outra situação desestruturadora para desenhar suas críticas ao establishment, ao casamento, ao mundo acadêmico, ao universo dos intelectuais e engrenagens do mercado editorial, aos educadores, às encenações dos burocratas do serviço público e às altas esferas da política. A trama é tecida a partir do sumiço de uma menina de cinco anos, filha de um escritor de livros infantis e uma violinista, em um supermercado de Londres. Em A criança no tempo, o autor explora não só a fragilidade psicológica do escritor Stephen Lewis, participante de uma estranha comissão de educação e de puericultura do serviço público britânico, como a fuga existencial de sua mulher, traumatizada e refugiada em um chalé no campo, depois do desaparecimento da filha.