Há quem se atreva a sentipensar entrelinhas, outras linhas. Há quem recuse. No recorte desta obra, despontam os abolicionismos enquanto uma destas crescentes formas de recusar e de apresentar as linhas não-ditas daquilo que se decreta enquanto estabelecido. Os abolicionismos, ao contrário do que rezam os estigmas contra eles construídos, anunciam-se enquanto audaciosamente realistas: tomam já como pressuposto para reflexões e ações e não mais como mera hipótese por sorte comprovável- o fato de que a política criminal e penitenciária que aí está não realiza os objetivos que declara e, perversamente, busca nos submergir em suas ilusões, em seus imaginários destrutivos, em seus racismos, misoginias e classismos. Para além disto, os abolicionismos, ainda, contemplam os conflitos enquanto elementos inexoráveis e necessários à construção da subjetividade e da vida em sociedade, e não enquanto desculpas instrumentalizáveis para a manutenção de aparatos e relações de dominação e extermínio e para a sustentação de uma cruel economia política da dor que despotencializam sujeitos e comunidades.