Afinal, é melhor ter ou não ter fillhos? Psicanalista e mãe de dois adolescentes, Corinne Maier cria polêmica ao questionar um tabu: a idealização da maternidade e da paternidade. Assim como em países ricos, o número de casais no Brasil que optam por não ter filhos já cresceu 80% em dez anos. Associações e movimentos dos que vivem sem crianças tornam-se comuns na Europa e nos Estados Unidos. Diante do quadro, e com rara honestidade, a autora discorre sobre as boas razões para não sucumbir à tentação e enfrentar as conseqüências e os sacrifícios que a escolha pelos bebês pode trazer. Sem filhos discute as privações objetivas e subjetivas que uma criança representa: lazer, vida conjugal, amigos, sexo e recursos financeiros por pelo menos vinte anos. A autora faz uma análise corajosa em que aborda as dificuldades das relações entre pais e filhos e os problemas da vida em família. Chama a atenção que, além do amor, são comuns os sentimentos que envolvem ódio, culpa, ressentimento, ciúme, e outros conflitos que não se enunciam com clareza. Corinne Maier também denuncia a banalidade e as limitações da vida doméstica dos que têm filhos e os malefícios da "educação" moderna, na qual a criança é o centro da família. Analisa o consumismo ditado por essas cabecinhas exigentes, a indiferença dos adolescentes e as inevitáveis decepções dos pais com suas crias. Com ousadia constrói um relato íntimo em que aborda o impacto negativo dos filhos na vida dos pais. Provocante, a autora mostra como a sociedade que privilegia as crianças na verdade penaliza os adultos, instaurando o que os especialistas já caracterizam como a era do "filiarcado".