"A literatura, assim como toda forma de expressão artística, é condicionada pela época na qual é produzida, pelo lugar de origem e pelas características de quem a cria. A história, mesmo não retratada de forma direta na obra literária, pode ser aspecto determinante à criação dos elementos presentes no texto. Nesse sentido, analisar as estruturas da narrativa contemporânea é também compreender quais são as relações estabelecidas entre história e o relato ficcional, entendendo por meio da literatura que a contemporaneidade é a relação que um texto literário tem com seu próprio tempo e partindo de certo distanciamento. Isso não significa que as obras que combinam inteiramente com seu próprio tempo sejam contemporâneas, mas em geral são assim chamadas aquelas que, em seu tempo, conseguem observá-lo a partir de certa distância. Os indivíduos modificam-se de acordo com as mudanças que ocorrem na sociedade, tanto em relação à política quanto à economia e, com isso, sua forma de representação, como a literatura, também sofre alterações. As obras literárias produzidas no século XXI estão mais comumente relacionadas à história, porque retratam a sociedade e as transformações pelas quais ela vem passando. Assim, a literatura tem abordado temas como as injustiças e desigualdade sociais, corrupções, e as modificações presentes no modo de vida da contemporaneidade causadas, entre outros motivos, pelo desenvolvimento e fácil acesso à tecnologia. Essa produção literária retrata como a memória é transformada em narrativa a partir do testemunho e pelo resgate da memória de acontecimentos individuais e coletivos que fazem parte da história. Tendo em vista que o testemunho oferece um discurso incompleto do evento, ele evidencia determinadas características da sociedade. Os testemunhos sobre a Shoah, fazendo parte da enorme gama da produção literária do pós-guerra, é um exemplo de como literatura e história caminham juntas, estabelecendo relações entre história e relato ficcional. "