O crítico Otto Maria Carpeaux já observou que, nas peças de Ésquilo, os heróis representam coletividades, enquanto, nas tragédias de Eurípides, quem fala, age, vive e padece são, acima de tudo, indivíduos que se manifestam “em oposição sistemática contra as ordens estabelecidas”. Talvez esteja aí uma das chaves do páthos e da permanência da obra euripidiana, que continua a comover e a interrogar seus leitores cerca de 25 séculos depois de ter sido criada.Tal afirmação é sem dúvida verdadeira para caracterizar a disposição moral e os gestos de protagonistas femininas tão marcantes quanto Fedra, Andrômaca ou Hécuba, que seriam reinventadas uma infinidade de vezes pelos autores os mais diversos na história da literatura e cujas palavras são aqui restituídas aos leitores brasileiros na tradução precisa do poeta e ensaísta Jaa Torrano, professor titular de Língua e Literatura Grega da Universidade de São Paulo.