Para narrar o emaranhado de situações paradoxais e convulsionadas sequências de fatos acumulados dos nossos tempos, Ronaldo Bressane constrói Escalpo com grande fôlego. E nesse tipo de apneia da escrita, prende a respiração e mergulha, nadando por baixo dos maneirismos de metalinguagem de superfície da literatura contemporânea, num universo que mescla o marginal e o pop numa prosa cheia de vigor. Ian Negromonte é um quadrinista gaúcho decadente, ainda que jovem. Na esteira de uma crise pós-separação e em meio às manifestações de 2013, somada aos perrengues financeiros, nosso herói vê sua história se cruzar com a de Miguel Ángel Flores, escritor chileno que chegou ao Brasil como um jovem fugitivo do regime de Pinochet. O velho, que precisa acertar contas com o passado, instiga Ian a encarar uma longa e inusitada jornada, que o leva - e nos leva junto - a diversos países da América do Sul, incluindo a nossa Paraty.