Carioca por adoção, o jornalista nascido na Bahia, Ricardo Cravo Albin, vem expressando sua paixão pelo Rio de Janeiro ao longo de uma produção regular de crônicas escritas a partir de 1994. O que o move é o "estado contínuo de paixão pela cidade onde moro. Pois o Rio, enquanto me abria cada vez mais o coração para a sedução de suas belezas, também me espicaçava a abrir os olhos para o que lhe faziam de errado ou de equivocado". As crônicas aqui reunidas não são entretanto um conjunto de escritos indignados denunciando as mazelas das administrações públicas ou a voracidade dos investidores privados. São acima de tudo, "desabafos anárquicos em cima de alguns dos muitos que afligem os cariocas capazes de amar a cidade". A ocupação das areias das praias por mafuás, o caos causado pelo põe e tira de nomes de personalidades em ruas, as podas mal feitas de árvores na praia de Copacabana, a troca dos pisos de pedras portuguesas das calçadas das praias, as obras questionáveis do ex-prefeito Cesar Maia, os míseros três quilometros de metrô, são alguns dos assuntos que Ricardo Cravo Albin utiliza para manter acesa a chama da polêmica contra a resignação que fatalmente acabaria por ajudar na degradação da qualidade de vida e da beleza de um dos lugares mais privilegiados do planeta. Ao lado das crônicas, Ricardo escreveu as Notas de Agora, que situam cada questão abordada nas crônicas ao seu contexto. Em muitas destas notas, Ricardo permitiu que seu amor pelo Rio transbordasse, fazendo-as maiores que a matéria original. A diagramação original e inventiva permite que os dois textos sejam lidos simultaneamente, uma vez que as páginas são apresentadas em duas colunas: a primeira com o texto original e a segunda com as notas que o atualizam e esclarecem o contexto inicial em que foram escritas. Seguindo na tradição dos grandes cronistas da vida carioca como Rubem Braga e João do Rio, Cavro albin acompanha os fatos do dia-a-dia, "bebendo-lhes simultaneamente fel e mel, fedores e odores". Joaquim Ferreira dos Santos, na orelha que escreveu para Um Olhar sobre o Rio, define a qualidade da militância das crônicas de Ricardo Cravo Albin: "Ricardo não quer votos, nem verbas para qualquer jogada. Do alto de seu apartamento, encarapitado numa frincha na pedra da Urca, ele observa a cidade com os olhos limpos dos tamoios que moravam por ali. Um cacique-ombusdmam da carioquice".