Nesta obra, que promove uma leitura itinerante do pensamento levinasiano através de seus principais momentos, com uma cadência quase narrativa e alguma fulguração poética, trata-se de recuperar a sensibilidade como chave paradigmática para uma abordagem ética da subjetividade enquanto responsabilidade ou um-para-o-Outro. E, a partir e em torno da categoria de sensibilidade, ensejar uma ampla descrição da dimensão encarnada - corporal e afetiva - do humano, aprofundando suas implicações éticas. A importância fulcral da encarnação, de modo algum alheia ao percurso do pensamento de Levinas, talvez possa assim resumir-se: "mais espiritual, mais sensível". Movendo-se na contracorrente de uma tradição ocidental que remonta a fontes órfico-platônicas, o filósofo judeu assume o pressuposto de que é no seio da condição carnal e sensível - e das relações inter-carnais e inter-sensíveis - que o humano se constitui e se afirma como tal. Nesse sentido, dizer "tu" - levar a sério este Outro, único, que me obsta a violência, ordena justiça e chama à responsabilidade - é descobrir que a alma não é "paralítica" e abriga inauditos "poderes de acolhimento, dom, mãos cheias, hospitalidade".